Arquivo de 17 de abril de 2021

Depois de 3 anos de tentativas nasci no dia 17 de abril de 1983, 38 anos atrás. Foi um parto difícil. Assim como eu sou hoje em dia. Nasci a fórceps. Quase eu e mainha morremos, mas driblamos a morte e as estatísticas de óbitos de gestantes e neonatos. Lutamos juntos por anos. Em 2020 eu perdi pro câncer ela. Em 2008 perdi meu pai devido a um “crente” Alcoolizado  que o atropelou quando ele voltava do hospital que mainha estava.
Os anos se passaram e a cada dia sou forçado a  renascer a fórceps pela desestrutura social, pelos meus erros e pelos erros que os outros cometem.
A cada ano eu preciso renascer em meio a pequenas felicidades que me fazem esquecer tantas coisas que me remetem a uma criança que era feliz ouvindo e vendo inocentemente uma Xuxa que não falava em usar população carcerária como experimentos… Cresci vendo romances em novelas e tendo todo o amor que pude ter, dentro das incompletudes humanas dos meus pais.  Cresci ao lado de um irmão que  votou 17, meio negacionista, crítico de vacina, que brigo e tenho homéricos atritos, mas que paradoxalmente o amo de uma forma que odeio e me provoca  conflitos existenciais profundamente angustiantes. Eu tenho orgulho de ter podido estudar em escola publica. De ter tido muita coisa quando saiu “da moda”. Sou grato por toda dor e esforço certo ou errado de painho e mainha pra tentarem ser feliz comigo e meu irmão. Sou grato por meu erros que me permitiram evoluir. Sou grato por pessoas que durante minha complexa trajetória de existir, puderam me amar e me direcionar/acolher muitas vx  nessa vida que eu sigo pra lá e pra cá tb, em busca de ser feliz.
É difícil ser e aceitar eu mesmo. É difícil dizer não ou “vomitar” minhas ansiedades, aquilo que sou com toda dor e delícia de ser, num mundo cheio de “filtros” e  pessoas “good vibes” robóticas e desumanas. Mas eu tô me amando da melhor forma que posso. Me aceitando. Buscando aprender com cada erro meu.  A solidão e a dor, a nostalgia de uma época que ganhar o lp da Xuxa, passar de ano e obedecer aos pais me perseguem. Nunca me senti tão só cheio de gente ao redor.  E digo isso não buscando pena ou parecer ser coitadinho. Digo isso para atestar o que sou.

Para registrar exatamente minha essência. Sem pena de mim ou buscando qualquer sentimento caridoso/bondoso ou resignado sobre quem sou.

Há momentos que a solidão me arrasa e esculacha. Mas ela e eu conversamos e remoemos muita coisa que nem mesmo mainha, se ainda tivesse a chance de estar viva (como desejo isso calado há nove meses) talvez pudesse racionalmente compreender.

Mas somente mainha sabia me amar com as vísceras dela. Cortando quase os pulsos.

Me amando mais que eu mesmo.

E me pego pensando nesse amor e entrega absoluta dela por mim e para mim, em diversos momentos.

E é esse amor que eu devo ter por mim. Ela é o exemplo de amor que eu mereço me dar e tenho me dado nesses meses todos de sua amputada e dolorosa ausência.

Clarice Lispector certa vez falou que quem a achasse esquisita a respeitasse porque ela foi OBRIGADA A SE RESPEITAR, e é assim que todos nós devemos olhar.para nós mesmos. Com acolhimento e autorespeito às nossas limitações, mas se permitindo a repensar nosso próprio amor e evolução, como uma forma de cabermos dentro de nós mesmos, assim como as mães fazem das tripas coração para que os filhos e suas grotescas incompletudes, caibam dentro de seu afeto acalentador.