Depois de 3 anos de tentativas nasci no dia 17 de abril de 1983, 38 anos atrás. Foi um parto difícil. Assim como eu sou hoje em dia. Nasci a fórceps. Quase eu e mainha morremos, mas driblamos a morte e as estatísticas de óbitos de gestantes e neonatos. Lutamos juntos por anos. Em 2020 eu perdi pro câncer ela. Em 2008 perdi meu pai devido a um “crente” Alcoolizado  que o atropelou quando ele voltava do hospital que mainha estava.
Os anos se passaram e a cada dia sou forçado a  renascer a fórceps pela desestrutura social, pelos meus erros e pelos erros que os outros cometem.
A cada ano eu preciso renascer em meio a pequenas felicidades que me fazem esquecer tantas coisas que me remetem a uma criança que era feliz ouvindo e vendo inocentemente uma Xuxa que não falava em usar população carcerária como experimentos… Cresci vendo romances em novelas e tendo todo o amor que pude ter, dentro das incompletudes humanas dos meus pais.  Cresci ao lado de um irmão que  votou 17, meio negacionista, crítico de vacina, que brigo e tenho homéricos atritos, mas que paradoxalmente o amo de uma forma que odeio e me provoca  conflitos existenciais profundamente angustiantes. Eu tenho orgulho de ter podido estudar em escola publica. De ter tido muita coisa quando saiu “da moda”. Sou grato por toda dor e esforço certo ou errado de painho e mainha pra tentarem ser feliz comigo e meu irmão. Sou grato por meu erros que me permitiram evoluir. Sou grato por pessoas que durante minha complexa trajetória de existir, puderam me amar e me direcionar/acolher muitas vx  nessa vida que eu sigo pra lá e pra cá tb, em busca de ser feliz.
É difícil ser e aceitar eu mesmo. É difícil dizer não ou “vomitar” minhas ansiedades, aquilo que sou com toda dor e delícia de ser, num mundo cheio de “filtros” e  pessoas “good vibes” robóticas e desumanas. Mas eu tô me amando da melhor forma que posso. Me aceitando. Buscando aprender com cada erro meu.  A solidão e a dor, a nostalgia de uma época que ganhar o lp da Xuxa, passar de ano e obedecer aos pais me perseguem. Nunca me senti tão só cheio de gente ao redor.  E digo isso não buscando pena ou parecer ser coitadinho. Digo isso para atestar o que sou.

Para registrar exatamente minha essência. Sem pena de mim ou buscando qualquer sentimento caridoso/bondoso ou resignado sobre quem sou.

Há momentos que a solidão me arrasa e esculacha. Mas ela e eu conversamos e remoemos muita coisa que nem mesmo mainha, se ainda tivesse a chance de estar viva (como desejo isso calado há nove meses) talvez pudesse racionalmente compreender.

Mas somente mainha sabia me amar com as vísceras dela. Cortando quase os pulsos.

Me amando mais que eu mesmo.

E me pego pensando nesse amor e entrega absoluta dela por mim e para mim, em diversos momentos.

E é esse amor que eu devo ter por mim. Ela é o exemplo de amor que eu mereço me dar e tenho me dado nesses meses todos de sua amputada e dolorosa ausência.

Clarice Lispector certa vez falou que quem a achasse esquisita a respeitasse porque ela foi OBRIGADA A SE RESPEITAR, e é assim que todos nós devemos olhar.para nós mesmos. Com acolhimento e autorespeito às nossas limitações, mas se permitindo a repensar nosso próprio amor e evolução, como uma forma de cabermos dentro de nós mesmos, assim como as mães fazem das tripas coração para que os filhos e suas grotescas incompletudes, caibam dentro de seu afeto acalentador.

A gente nunca sabe

quando sem querer consegue colar um pouquinho dos seus cacos

Ninguém nunca pode dizer que não passou por isso

Ninguem pode dizer que não vai acontecer

E no meio desse caos, a possibilidade de ser amado e amar é um combustível pra tentar continuar

E não olhar para o abismo que há la fora

Eu poderia não ligar pra isso maism, fingir que não ta acontecendo

Mas ja coloquei uma música no repeat da minha playlist

Queria não me importar com a ausência

Mas sem querer fui sugado pelo sentimento

E é difícil segurar a avalanche de sentimentos que guardo em segredo e doso aos poucos

A gota d’água

O tsunami emocional vem…

E acabo por não conseguir manter a inteligência emocional em meio a um mundo tão efêmero e líquido

O menino, agora sozinho do mundo, vê no amor uma faísca de esperança pra continuar

Me sinto um bobo novamente

Eu queria poder controlar

Todo esse sentimento que meu romantismo criou sem que eu esperasse

E tenho novamente medo de o perder

E ser mais uma vez completamente sozinho no mundo com minha solidão e dor

Não…

Não dá atenção às minhas crises

Só diz que também quer me amar

E vamos seguir com nossos cacos refletindo de uma forma mais colorida e bonita

As luzes que nos rodeiam

Reencontro com a dor

Publicado: 14 de dezembro de 2020 em Poesias e sentimentos, Confissões

Arrumo a pequena mala

Com ela arrumo e reorganizo minhas lembranças e saudade

Seu olhos profundos de um verde abissal

Não estarão mais lá para me olhar com toda profundidade que o amor possui

Não haverá mais nosso diálogo

Nossas risadas e parceria

Meu amor, minha mainha

Meu espelho vintage

Minha rainha.

A dona da minha pele tatuada

Das cores, irrenverência e falta de filtro.

A dona dos nossos aprendizados mútuos

Com a mala e comigo vão uma saudade que latejando

Uma vontade louca, beirando a insanidade de mais uma vez abraça-la e caminhar com ela pelas ruas de Rio Doce segurando sua idosa e Delgada mão.

Saudade…

Saudade minha mainha.

Publicado: 9 de dezembro de 2020 em Poesias e sentimentos, Confissões

Eu não quero ler mais.

Eu não quero estudar mais

Eu não quero sapear redes sociais

Não gostaria mais de deslizar meu dedo pra esquerda ou direita

Não gostaria mais de instalar ou desinstalar apps

Muito menos de caçar e-books grátis na plataforma do e-reader

Tudo isso pra preencher o vazio que há dentro se mim

Vazio que já existia e que aumentou

Depois que a vi morrer diante dos meus olhos.

Calei a dor e o pranto. Suportei pra poder dizer a ela, nos últimos momentos que tudo ia ficar bem. Que a amava.

Mas não está tudo bem

E tudo bem se não estiver

A vida tem sido um vazio.

E não busco pena ou compaixão de ninguém

Busco apenas quem queira aceitar minhas incompletudes

Meu corpo obsolescendo

Minha mente ranzinzando

E queira se dispor a permanecer mesmo diante dos meus cacos afiados

Que consiga aquecer o meu coração e corpo que adoram o frio e se esfriaram diante de tantas dores.

Que tenha coragem pra querer desbravar a selva que sou eu.

Eu preciso de mim. Só eu, na medida do possível, posso me ajudar.

Mas sou humano com necessidades emocionais em desalinho com a minha realidade atual.

E o que é que tem?

Nem sempre é possível ter o tempo todo inteligência emocional.

E ta tudo bem eu ser esse bagaço humano que tenta se reaproveitar

E hoje não tem música. Não tem foto

Não tem calor humano.

Não tem boa noite.

Não tem muita coisa que amaria

Mas é preciso resistir…

Mas cansa viver.

Desde que

Se eu pudesse contar tudo que sinto… Se eu pudesse chorar tudo que quero… Se eu pudesse amar mais tudo e todos que já se foram… Não sei qual o futuro… Mas há muita dor e solidão nessa caminhada.
Não sendo relação abusiva, agradeça por ter filhxs e/ou estar casadx/ ter alguém que exerce esse papel nesse processo chamado 2020.
E vivemos numa sociedade onde voce não pode, ou até pode mostrar seus sentimentos mas…

Esse desnudar-se tb pode ser uma Kriptonita.

Há energias que se alimentam da sua. Isso agrava a sensação de vazio, solidão e solitude. Imagine sentir isso sabendo que não há mais colo de mãe e nem de pai pra te aconchegares…

E não.

Não estou escrevendo nada disso esperando sua aprovação, aceitação ou qualquer juizo de valor. Escrevo pq fazer isso me ajuda a materializar e pensar no que estou sentindo. Me faz analisar aquilo que derramo pelos dedos.

E mais uma vez…

No fosso da solidão

Lanço mão aos app de pegação.

Pra, ilusioriamente acalmar meu coração

Olho tudo ao redor

Nada faz sentido

Nada parece fazer efeito

Nem masturbação

Sono ou qualquer outra distração

Lutando pra não sair por aí e sentar num rodízio de Sushi

Sozinho

E tentar me empanturrar de algo que me preencha a fome física.

E talvez, ser olhado por alguém que me queira além do corpo e das imaginárias notas valorosas.

(Re) Descobrir-se

Publicado: 17 de novembro de 2020 em Poesias e sentimentos, Confissões

Ler ouvindo Renascer – Zizi Possi – https://youtu.be/JvdjFwZr1Ao

Eram quase 23 horas e me levantei da cama dura para comer.

Fiz aquele cuscuz amaralo, típico do meu Pernambuco, na tentativa de saciar a fome do corpo. Mas não saciei a fome da alma.

Esses dias todos, desde que mainha faleceu, eu tenho sentido ainda mais fome. Ainda mais vazio dentro de mim. Sinto umaa fome que não há nada que me sacie: nem folme; nem choro; nem isolamento social; nem masturbação; nem outro corpo…

Minha mente vive a mil. Com o celular na mão o dia todo; isolado do mundo além quarto, fico assistindo vídeos de costura e demais coisas aleatórias, procrastinando até pra ir ao banheiro ou beber água, pra tentar fugir de algo que não sei definir.

A impressão que tenho é que estou estilhaçado e que preciso colar meus cacos. Mas como faço isso? será QUE TEM ALGUM JEITO?

Passo o dia INTEIRO, pensando em formas de reinventar; de me redescobrir; de me realimentar ou tentar saciar minha fome na alma… E não consigo.

Não consigo lembrar até do som de mainha mexendo o café com a colherzinha de chá. Não consido deixar de lembrar as últimas dores dela. O brilho dos seus olhos se esvaindo enquanto ela morria nos meus braços e eu não podia fazer nada.

Me sinto profundamente sozinho. Profundamente desamparado. Profundamente deslocado de mim mesmo e tentando me reencontrar al algum lugar ou alguma coisa.

Se eu, do alto dos meus privilégios sinto isso… Imagina quem vive com muito menos do que eu e sente o mesmo que eu… Tento como posso não reclamar da vida. Mas não acho que esteja reclamando sabe? Acho que estou numa espécie de caminhada de (re) descobrimento de um mundo que eu, nem no pior dos meus pesadelos existiria: o da profunda solidão em meio de tantas pessoas.

As vezes nem eu mesmo consigo me ler. Mas queria encontrar alguém que dialogasse com a minha fome; que se predipusesse a colar o que sobrou dos meus cacos; que me colocasse no colo e me olhasse com o mesmo amor que mainha me olhava…

E quando eu olho pro espellho; quando eu pinto minhas unhas e quando eu façoou tento fazer um monte de outras coisas que me remetem à mainha, eu tento ser pra mim mesmo essa pessoa que tanto espero…Mas nem eu tenho conseguido… imagina outra pessoa…

E a vida deve e tem que continuar… Mesmo faltando pedaços… tentando ainda (re) encontrar um eixo que me reorganize …

Flor da fortuna na janela do meu quarto.

Chorei ao saber que essa flor é tb conhecida como flor da fortuna ou da sorte…
Eu a coloquei próxima aos retratos de mainha, como forma de dizer a ela o quanto ainda a amo.
Não explanei isso… Mas há duas delas no meu quarto… A que creceu quase o dobro e floresceu foi a que eu pus em mainha… Chorei pq tomar conhecimento do nome da flor e a fama dela me fez entender que o crescimento e reflorescimento exatamente da que ofertei à memória de mainha é uma resposta dela, onde quer que ela esteja, que sempre me amará e que não importa quantas vx as pétalas murchem… Nosso amor sempre vai reflorescer e sempre será lindo como a delicada flor sa fortuna/sorte… Ela deseja a mim isso: sorte e fortuna de amor, afeto, resistência e garra pra continuar a caminhada… Te amarei até meu último suspiro mainha… Só a gente sabe o quanto éramos um pro outro e o quanto nos desconstruimos pra que pudéssemos caber dentro da vida um do outro.
Eu entenderei cada um dos teus sinais, mesmo não estando fisicamente aqui. Porque só a gente sabe o que a gente passou em tantas fases densas da nossa existência. E agora, me mandas mensagens de formas mais belas e diferentes. Te amo! Nenhum câncer na vida irá sucumbir  meu amor por vc.

Ler ouvindo:

NOITE ESTRANHA, GERAL SENTIU – LETRUX: https://youtu.be/xG0fWFU4NsM

Já escreveram muito sobre fome. Mas a fome que quero falar aqui, não é uma fome de comida. É uma fome que, sei lá, me traz angústia mais mental que física. Eu sinto uma fome que incomoda os meus sentimentos e coração. A fome que tenho é uma espécie de fome da alma. Fome de conteúdo. Fome de um amor que, minha pessoa romântica viu em novelas e filmes, mas que sei que não existe na vida real.

Hoje, na minha terapia, eu falei disso com minha psicóloga. Foi uma espécie de revisitação por sentimentos e dores do passado. O insight que tive foi: há pessoas que estão longe e têm realidades diferentes. Isso é o REAL. E eu, minha pessoa; eu batizado por meus pais (rs) as vezes busco e oportunizo pessoas longe porque vivo em busca do utópico. Do sonho. Mas sentimentos meus e alheios são reais. E não se pode colocar os sentimentos próprios e alheios numa “exigência” de sonho ou “perfeito”. A gente, uma hora ou outra vai sofrer com a crueza da realidade.

Talvez, por medo de novas decepções e traumas, eu busco esse “longe” e utópico amor. O consumo de pornografia tb me deixa numa zona de conforto. Por quê? Porque no campo do imaginário e do irreal, do fetiche, tudo é do jeito que mais me convém. Pessoas reais podem me provocar dor e desconfortos diversos. Mas, não dá pra fugir da realidade. Não dá pra ter medo de sair da zona de conforto. Não dá pra não ser vulnerável quando o assunto é se relacionar com o outro, E TÁ TUDO BEM! É ISSO MESMO! É isso que tenho conversado comigo nessa egotrip…

Ler ouvindo She’s all I ever had – Ricky Martin – https://www.youtube.com/watch?v=1XkcHVOoq-U

Faz três meses que ela se foi. Mainha era minha eterna fonte de (des) construção. passamos por tantas coisas juntos, que parece que tive um pedaço de mim amputado.

Vi essa semana algo que a atriz Bel Kutner faz sempre que lembra de sua mãe, Dina Sfat: ela escreve cartas… Bel publicou uma delas em um jornal de circulação grande aqui no Rio de Janeiro. Eu as vezes “reecontro” mainha ouvindo seus LP’s e relembrando dela, com voz soprano, gasguita, cantando muitas das faixas dos discos que me trazem-na por alguns instantes cheio de sentimentos mistos. Sentimentos esses saudosos, chorosos e risonhos com muito afeto e amor envolvido.

Eu, tomado por esse exemplo da Bel Kutner, resolvi voltar a escrever aqui. Sim meu caro leitor, eu sei que estou há muito tempo longe daqui e desse blog. A vida não é para amadores e eu tenho muitas coisas para debruçar nos proximos posts.

Eu sei que tudo tem um tempo. O tempo das coisas chega, não importa de cedo ou tarde. Há coisas que não temos, jamais, nenhuma forma de controlar; O tempo e o destino são duas dessas coisas.

A ordem natural é que as pessoas mais velhas faleçam. Durante anos eu me preparei psicologicamente pra isso. Mas toda preparação parece não ajudar,

Eu sinto falta dela nas pequenas coisas. Mesmo distantes geograficamente, eu morando e vivendo no Rio de Janeiro e ela em Olinda, nos falávamos durante o dia, as vezes 3-4 vezes. Do café da manhã-ida ao trabalho, ao meu retorno pra casa.

O tempo das coisass chega e chega imperativo e tempestuoso, não importa o quão preparado você se torne. Há a sensação de avalanche te levando sem que você consiga fazer nada para se salvar. É um tsunami de sensações.

E a vida precisa seguir, aceitando o tempo das coisas.

Luto não é só sentimento. É verbo.

Nossos olhos: os de mainha e os meus