Onde Deus pode me ouvir?

Publicado: 15 de agosto de 2018 em Poesias e sentimentos, Confissões

Ler ouvindo Vander Lee e Luciana Mello – ONDE DEUS POSSA ME OUVIR.

Acordei num mundo depreciativo. Um mundo onde as pessoas tem prazer em se juntarem à outras pra massacrarem outras mais “frágeis”.

Hoje, num grupo de Whatsaap, mulheres que juntas, cantavam uma música de cunho sexualizado, foram chamadas de puta por uma criança, numa montagem feita por um adulto…

No grupo eu sou o único gay. Entre a minoria das mulheres (que acabo me encaixando, por ser o único gay) somente eu falei.

Somente eu que expus que o vídeo era machista. Acabei citando posts anteriores do cara que publicou o vídeo no grupo. E, mais uma vez, homens héteros, cis, o defenderam. Veio até um estrangeiro que não fala direito a língua portuguesa, evitando inclusive áudios, me dar lição de moral, pq não viu “machismo” no vídeo. Questionado sobre, disse que fez uma faculdade e cursou língua portuguesa com maestria…

Então posso afirmar que conheço profundamente inglês, pois fiz faculdade de Letras: português /inglês…?

Resultado disso: o cara que publicou o vídeo machista estava dormindo (não adivinho) e, assim que viu que estava expondo o machismo dele, ele me ligou me esculachando. Me chamando de tudo quanto era nome (tal qual o menino do vídeo chamou as mulheres de puta). Não satisfeito, invadiu privadamente meu Whatsaap pra me ofender, não resolvendo no grupo, as questões levantadas.

Devidamente bloqueado, o dito cujo fora banido do grupo pelos adms. Que em nenhum momento enquanto ele presente no grupo, o “enquadraram” pela conduta machista e depreciativa das mulheres, eufemizada pela “piada”.

Não satisfeito, fora pra outro grupo onde estávamos, expor e continuar as agressões iniciadas, deixando nesse último, todxs perplexos sem entender o que se passava. Não levei adiante a conversa no outro grupo, pra que não fosse banido. Mas passei como “covarde”, eu que expus o machismo.

O machismo que não aceita ser profanado. Que não aceita ser contrariado. Que não aceita ser exposto.

O machismo que fora defendido por umas integrantes dos grupos, com desejo sexual naquele tipo de corpo masculino machista.

O machismo corroborado pela defesa dos outros homens. Ratificado. Aceito. Quase que homologado e sancionado.

Eu, que acordei feliz pq ontem participei de um ritual sagrado e colorido.

Ataquei o machismo. Ataquei e contrapus solitário. Sem eco.

Até que ponto então, deixamos se perpetuar e não atacamos esse machismo por covardia? Por corporativismo? Por concordar com violências e suas mais diversas formas?

Nos indignamos com a história da advogada jogada do 4 andar, tão veiculada na mídia nos últimos dias… Os vídeos chocam… Mas tudo aquilo pode ter começado com um xingamento: puta; vadia; vaca, piranha…

Até que ponto, de maneira subliminar, estamos naturalizando esses xingamentos para mulheres livres e empoderadas de sua sexualidade , e alimentamos o monstro do machismo?

Hoje, fui eu menosprezado e solitário numa luta que deveria ser efetiva e real de todxs.

Mas não é assim…

E até quando? Até quando não iremos enxergar as entrelinhas? Até quando naturalizaremos o machismo que acaba em morte?

Até quando seremos vítimas de algozes dessa cultura? Tanto xs que sofrem pelo machismo quanto quem o ataca, expõe ou vilipendia?

Fui chamado de “primário” pelo machista do post. O que mostra que ele é da área de segurança pública. Talvez milico.

Daí penso: se ele, num grupo de Whatsaap pratica machismo; se ele ataca com palavras de baixo calão e insanamente expõe em espaços não delimitados na discussão inicial, causando desconforto dos demais membros do segundo grupo exposto…

Como seria feita a abordagem profissional desse homem hetero cis, caso uma das garotas do vídeo fosse estuprada? Como seria a tratativa? Como seria caso eu fosse morto por defender ou atacar esse machismo? Como seria se tudo isso fosse judicialmente exposto?

É nessas horas que dá um profundo desgosto pela vida, pela humanidade. É nessas horas que dá desânimo de lutar por um mundo mais respeitoso para as mulheres, gays.

É nessas horas que você pára pra pensar o quanto temos pessoas violentandoras dentro dos espaços públicos de atendimento.

Onde Deus poderá me ouvir? Se dizem que somos a imagem e semelhança dele, pq não podemos atacar esse tão imaculável machismo?

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